10 de jan. de 2013

Santo em tempo recorde


O falecido Papa João Paulo II, morto em 2005, se tornará santo em tempo recorde. O processo de canonização geralmente demora de 20 a 40 anos após a morte do candidato para se concretizar, mas no caso de João Paulo II este tempo deve ser bem menor.

Alguns dados referentes a este processo:
* Na dia de seu funeral inúmeros fiéis seguravam faixas com os dizeres: "Santidade imediata";
* Um mês após a sua morte o novo Papa Bento XVI entrou com o pedido de beatificação, que em geral ocorre após cinco anos do falecimento;
* Após a atribuição de um milagre o Papa João Paulo II foi beatificado no dia 01/05/2011, numa cerimônia com mais de 1 milhão de pessoas que lotaram a praça São Pedro.

A partir destas etapas é necessário apenas a validação de mais um milagre para se tornar um santo  pela igreja católica. Prefeito Emérito da Congregação dos Bispos, Cardeal Giovanni Battista Re, se manifestou dizendo que as etapas finais do processo estão bem encaminhadas e disse ainda que se a canonização não ocorrer em 2013, com certeza ocorrerá em 2014.

Óbvio que como protestante não dou muita atenção para estes fatos, pois não encontram amparo nenhum nas escrituras sagradas. Como batista respeito a liberdade de religião e, sobretudo, a liberdade do indivíduo. Mas me sinto à vontade para emitir alguma opinião e para analisar o fenômeno religioso em si.

Na ultima década a igreja católica passou por muitas dificuldades. Perdeu um número considerável de fiéis, foi alvo de inúmeros escândalos envolvendo padres por todo o mundo, se dividiu internamente, perdeu a capacidade de dialogar com seus jovens e têm adotado posicionamentos conservadores que também a impedem de dialogar com a sociedade como um todo. Enfim não tem sido nada fácil manter sua hegemonia histórica.

Numa situação como essa nada melhor do que tentar ressuscitar a memória daquele que foi seu líder mais carismático, João Paulo II. Fazer dele um "super-homem", um santo, e sobre a sua figura tentar avivar o catolicismo. Isso explica o motivo deste processo de canonização tão rápido, apenas como comparação o tempo que será gasto para canonização de João Paulo II pela igreja católica é menor do que o tempo gasto para se formar e ordenar um padre, processo que dura em média de 9 a 11 anos.

Esta canonização é apenas parte de uma série de ações que estão sendo tomadas pela igreja católica para tentar retomar sua supremacia, ou pelo menos parte dela. Outra ação que está próxima de acontecer é a JMJ, Jornada Mundial da Juventude, que foi criada também pelo Papa João Paulo II em 1985, e consiste numa reunião de milhões de pessoas católicas, sobretudo jovens. A JMJ estará no Brasil entre os dias 23 a 28 de Julho de 2013. Esta JMJ é sem dúvida uma das mais importantes desde sua criação, uma vez que ocorrerá na América do Sul e, sobretudo no Brasil, um dos países em que o catolicismo mais foi afetado nos últimos anos.

A agenda do Papa Bento XVI para a JMJ está definida desde o final de 2012. O evento mais significativo de sua passagem pelo país se dará na celebração da missa na base da força aérea em Santa Cruz, segundo se estima contará com a presença de mais de 2 milhões de fiéis em sua grande maioria jovens. A CNBB aguarda com grande expectativa a JMJ para colher seus frutos nos anos futuros, o tema desta Jornada será "Ide e fazei discípulos entre todas as nações" (Mt 28,19).

É muito simples demonstrar em passagens bíblicas que as atitudes da igreja católica não encontram amparo na Bíblia. Na Bíblia, santo quer dizer separado, separado do mundo e separado para Cristo; na Bíblia o caminho da santificação se percorre em vida e termina na morte do crente; na Bíblia não existe possibilidade de contato com os mortos - àqueles que enveredam por este caminho caem nas ciladas de Satanás; na Bíblia só existe um mediador entre Deus e os homens - Jesus Cristo! Contudo escrevi este texto com a motivação de analisar rapidamente o fenômeno religioso e não o aspecto bíblico de tais atitudes da igreja católica.

Abraço;

Rodrigo.


Usei as seguintes fontes como pesquisa:
Colunista internacional da Bandnews FM que escutei hoje pela manhã, dando a notícia da canonização de João Paulo II (10/01/2013)
http://www1.folha.uol.com.br/mundo/907426-joao-paulo-2-deve-ser-canonizado-em-tempo-recorde-diz-cardeal.shtml (Acesso em 10/01/2013)
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/05/joao-paulo-ii-e-beatificado-diante-de-1-milhao-de-fieis.html (Acesso em 10/01/2013)
http://g1.globo.com/mundo/noticia/2011/05/beatificacao-de-joao-paulo-ii-e-passo-anterior-santificacao.html (Acesso em 10/01/2013)
http://noticias.cancaonova.com/noticia.php?id=288317 (Acesso em 10/01/2013)
http://www.rio2013.com/pt (Acesso em 10/01/2013)


A Globo, o Malafaia e um desabafo…



E nos vemos mais uma vez enamorados com a rede Globo.

Sinceramente, não conseguiria entender esse encanto, senão fosse o fato de avaliá-lo muito mais à luz da “persona”, no caso, o pastor Silas Malafaia, do que do segmento evangélico.

Estrategicamente, a TV sempre deu mais prejuízo do que lucro. Não anotamos um número significativo de vidas ou estruturas transformadas que citam um programa evangélico de TV como a sua gênese.

Muito pelo contrário, na TV, o segmento evangélico alcança seu pior estereótipo. E não é pelas personagens “crentes” caricatas nas novelas. Não. São os televangelistas que são nossa pior imagem pública. Eles, sim, e seus projetos pessoais de poder, caricaturas de uma triste realidade.

Duas semanas atrás o senhor Malafaia foi até a Globo e apertou a mão não sei de quem (me lembrei da hora em que o advogado Kevin Lomax, interpretado por Keanu Reeves aperta a mão do diabo, interpretado por Al Pacino em “Advogado do Diabo), “selou a paz” e firmou um “compromisso” entre nós, evangélicos e a emissora. Como pedido “fiel da balança”, solicitou um personagem evangélico que retratasse de fato quem somos.

Duas perguntas:

1. E quem somos? Um grupo formado por milhões de pessoas, que se agremiam nas mais diversas “denominações”, num país completamente diverso em sua identidade social, cultural e religiosa inclusive. Qual seria o retrato de um personagem “evangélico” de fato?

E, mais importante:

2. É a Globo, influenciada pelo sr. Silas Malafaia, que terá o poder de determinar o perfil do “bom evangélico”?

Por favor, sr. Malafaia (que nunca vai ler esse texto…). Quer falar, fale, mas fale em seu nome ou em nome de quem lhe deu procuração.

Também sou evangélico. Também sou pastor. Mas cansei de dizer que não sou como o senhor para pessoas que me conhecem sem ter o mínimo registro religioso que as dê algum discernimento para saberem que somos diferentes, que lemos bíblias diferentes, que vemos o mundo de forma diferente.

E se quiser vender-se para a rede Globo, venda-se, venda o que tem, mas não o que não possui.

Você é sim, infelizmente, uma voz evangélica com força pública, mas NÃO REPRESENTA OS EVANGÉLICOS, muito menos os detém.

Você NÃO FALA EM MEU NOME e nem em nome de outros milhões de irmãos evangélicos brasileiros, que tomam a sua cruz a cada dia e seguem o mestre Jesus de Nazaré.

No mais, senhoras e senhores, como bem diz meu amigo caipira Carlinhos Veiga:
“Nas contas que fiz, não sobrou nem um pouco. Ou eu sou ruim de conta, ou esse mundo tá louco.”

Vamos em frente.

9 de jan. de 2013

Ambientes Cansativos


Parte do meu TCC, apresentado na FABC e também na Teológica, adaptado para alguns dados mencionados no livro Dissidentes da Igreja de Alan Corrêa.

Estamos vivendo em uma sociedade sem tempo, está cada vez mais difícil conseguir um dia livre para o descanso e conseqüentemente para participar dos cultos regulares na igreja. Como prova disto a multiplicação dos cultos on-line[1]. Há algum tempo foi criada uma lei que autoriza os estabelecimentos comerciais trabalharem aos domingos[2], muitas empresas também tem expedientes produtivos aos finais de semana, infelizmente perdemos a cultura do final de semana - do período de descanso. Todo dia é dia de trabalho, “tempo é dinheiro”. Isto sem falar daqueles que trabalham e estudam, ou ainda daqueles que trabalham em turnos alternados, nestes casos as dificuldades são ainda maiores.

Diante destas dificuldades, muitos cristãos se vêem privados de cultuar nas reuniões regulares dos finais de semana. Sempre que possível estão presentes, porém nos ambientes legalistas estas pessoas são sempre julgadas em seu retorno como aqueles que estavam desviados, a mensagem do púlpito é dirigida a estes.[3] São os “bons filhos que retornaram a casa, que estavam mortos, mas ressuscitaram”. Agora vamos pensar... Quem disse que estavam desviados? Quem disse que estavam mortos? É possível que estes, que estiveram impossibilitados de frequentar a igreja em algumas reuniões, por alguns finais de semana, tenham buscado mais ao Senhor do que aqueles que sempre estiveram presentes (notem isto é um dado intangível), mas em seu retorno são julgados pelos que tiveram a oportunidade de frequentar assiduamente as reuniões e demais eventos.

Sabemos da necessidade de congregar as pessoas para adorar a Deus, de terem comunhão umas com as outras - sabemos, e lutamos por isso! Mas é triste perceber ambientes que nutrem uma teologia fraca, uma doutrina bíblica raquítica, que por meio da ida ao templo julgam as pessoas quanto a sua salvação e permanência no Senhor. Diversas pessoas acabam se afastando da igreja por não conseguirem, nunca, alcançar o padrão de freqüência exigido pela comunidade. Isto é muito comum, a abordagem ao sujeito que em determinada reunião ou festividade não pode estar presente, na maioria das vezes é a seguinte: “Sentimos sua falta ontem, você não veio, deixou de ser abençoado” Novamente... Quem disse que deixou de ser abençoado? Por que não perguntaram o real motivo de sua ausência? Por que não deram liberdade (sem fazer cara feia) para seguinte resposta: “por que estava trabalhando ou simplesmente porque não quis, fiquei com minha família!” Abordagens como estas esgotam e fadigam as pessoas.

O cenário citado acima demonstra uma contribuição negativa, presente nos ambientes legalistas. Ao aferirem a espiritualidade de seus membros pela frequência aos cultos e demais eventos da igreja estão, sem saber, contribuindo para o crescimento de um grupo denominado pelo escritor Alan Corrêa como “Dissidentes da Igreja”[4], nesta obra o autor explana com maior profundidade aspectos relacionados a um número crescente de pessoas que tem desistido de congregar.

[1] Cultos transmitidos ao vivo via internet.
[2] LEI Nº 11.603, DE 5 DE DEZEMBRO DE 2007. In: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-
2010/2007/Lei/L11603.htm. Acesso em 11/2012.
[3] Depoimento de pessoas que passaram por este constrangimento.
[4] Corrêa, Alan “Dissidentes da Igreja. Entendendo e Defendendo a Igreja”. Editora Reflexão, 2012.

Lançamento do Livro Dissidentes da Igreja



Minha fala no dia 01/12 durante o lançamento do Livro Dissidentes da Igreja de Alan Corrêa:

O Dissidente da Igreja é alguém que desistiu de congregar, alguém que desistiu de participar da igreja institucional, alguém que desistiu de participar das reuniões regulares. Esta atitude a ele, dissidente, denota uma maturidade espiritual, mas pode também ser vista como uma demonstração de imaturidade. A decisão de não congregar, nasce a partir de alguma experiência negativa no ambiente de culto e convívio cristão, nestes casos os dissidentes poderiam, ao invés de desistir, se apresentarem como solução, suportando o outro em suas falhas.

No livro “Dissidentes da Igreja” o autor Alan Corrêa deixa claro que não é errado mudar de igreja. O que é investigado são as causas dessas mudanças, se são legítimas ou ilusórias. Escutamos muitas vezes frases do tipo: “A Maria se desiludiu com a igreja dela, e mudou para outra” ou “O Antônio se desiludiu com o pastor dele e mudou de igreja” (os nomes citados são fictícios). Achamos isto ruim, mas se analisarmos friamente, estar iludido também é ruim, portanto “se desiludir” aponta para uma busca da verdade. Quando esta busca é sincera, por um ambiente sadio de culto, de adoração, de doutrina bíblica, de teologia equilibrada, isto é positivo, bom, e tem seu lugar na vida do cristão.

O problema mais sério se apresenta quando estas mudanças se avolumam. Cristãos que não conseguem se fixar em nenhum local, que não criam raízes, não criam vínculos duradouros e assim acabam por desistir de congregar. Nestes casos cabe uma pergunta: “O problema está nos diversos ambientes por onde passou, e não conseguiu se fixar, ou no individuo?” Esta decisão drástica possui efeitos profundos na vida do cristão, sendo que o principal deles é a não utilização de seus dons e talentos na edificação do Corpo de Cristo e no serviço ao outro.
É triste ver que, segundo demonstrado no livro “Dissidentes da Igreja”, o número de cristãos que têm decidido “trilhar carreira solo” está aumentando a cada ano. Na obra o autor elenca sete fatores que têm contribuído para que “Igrejados” tornem-se “Desigrejados”, abaixo darei uma breve introdução a 3 destes fatores, mas recomendo a leitura do livro para que possam apreciar o estudo em toda sua profundidade.

Decepção / Decepcionados: Este fator está presente nos ambientes que colocam palavras na “boca de Deus”, ou seja, ambientes que lançam profecias e palavras de vitória indiscriminadamente sobre a vida de seus membros. Nestes casos os membros são encarados como clientes e não como ovelhas, e “vale tudo” para deixar o cliente satisfeito e fidelizá-lo à igreja. Contudo com o passar do tempo estas ovelhas percebem o engano, se decepcionam e acabam por aumentar o contingente de Desigrejados.

Abuso Religioso: A quem diga que para todo abusador religioso, existem aqueles que se deixam abusar. Ambientes em que o abuso religioso predomina são pesados, seus membros sentem-se como num Reality Show, ou seja, sendo observados a todo instante. Sentem medo de tomarem alguma decisão vá contra o pseudo-líder religioso, o “Ungido do Senhor” e assim acabem saindo de sua “Cobertura Espiritual” e isto lhes cause algum dano. Todo ambiente coercivo não produz frutos pela graça, mas sim pelo medo. Estes ambientes também contribuem para o crescimento dos Desigrejados.

Descartabilidade: Atualmente estamos conhecendo mais de perto um fenômeno chamado obsolescência, é um termo aplicado ao mercado de consumo, que determina em quanto tempo determinado produto se tornará obsoleto. Esta obsolescência pode ser instantânea ou programada. Um exemplo claro de obsolescência programada são os equipamentos tecnológicos atuais, por exemplo, podemos adquirir o celular mais moderno do momento, porém daqui a dezoito meses (segundo dados tecnológicos atuais) ele já será obsoleto e outro com o dobro de suas funções surgirá em seu lugar. Este termo que é próprio do mercado de consumo migrou para esfera dos relacionamentos humanos, hoje as amizades e os vínculos são superficiais, descartáveis, com o tempo tornam-se obsoletos... quando estes aspectos adentram à igreja acabam também por contribuírem para o crescimento de Desigrejados.

O quarto capítulo é uma “coluna dorsal” do livro, nele estes e outros fatores são tratados com maior profundidade. Sendo que os fatores abordados estão bem próximos de nossa realidade.
Mais uma vez parabenizo ao amigo e irmão em Cristo Alan Corrêa pelo projeto.

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Resposta a pergunta sobre pastores inacessíveis e igrejas emergentes:

Quanto aos pastores inacessíveis a igreja, podemos dizer que estes ambientes se assemelham muito a empresas e não a igrejas, empresas em que existe muita dificuldade de se conseguir um contato com o presidente ou com a diretoria. Fiz uma comparação com um dado presente no livro “E Deus criou a empresa familiar” que diz que as empresas familiares possuem 28% a mais de chance de obterem sucesso do que empresas outros tipos, o principal fator para esta vantagem em relação às demais é a proximidade que a presidência e diretoria das empresas familiares partilham com seus funcionários e colaboradores. Acredito que este modelo – não de liderança familiar na igreja, pois isso seria nepotismo – mas de proximidade com suas ovelhas e liderança deve ser imitado.
Quanto às igrejas emergentes, não tenho muita dificuldade, penso apenas na aplicação das ordenanças que constam na Bíblia, sendo a ceia e o batismo. Neste ponto uma colaboração do Pr. Maurício Abreu de Carvalho, mostrando que existem diversos tipos de igrejas, com liturgias das mais diversas, inclusive com outros nomes para suas funções, o fato é que acabamos por nos acostumar com um modelo padrão de igreja e liturgia.