24 de fev. de 2012

A (Des)Unidade Protestante do Brasil

Por Robinson Cavalcanti

Nos últimos anos tenho colocado a minha (já escassa) reserva de idealismo apostando na criação da Aliança Cristã Evangélica do Brasil, como um órgão aglutinador e representativo do nosso, digamos, “mui plural”, universo protestante nacional. E tem sido uma mão de obra. Creio que foi muito mais fácil para Noé levar a bicharada para dentro da Arca. Haja desinteresse e haja desconfiança! Quem está fora não quer entrar, e, até, quem está dentro, quer sair… E lembrar que um dia tivemos uma história tão diferente! O espírito de respeito e cooperação entre os pioneiros, e no longo período do “consenso evangélico”; a unida reação a deliberação do Congresso de Edimburgo (1910) de excluir a América Latina como campo missionário; a unida participação no afirmativo Congresso do Panamá (1916); o unido trabalho da Comissão pela Escola Bíblica Dominical (produzindo material para várias denominações); o unido trabalho da Confederação Evangélica do Brasil (CEB); a unida participação nas Conferências Evangélicas Latinoamericanas (CELA’s); os ainda esforços unificados dos Congressos de Evangelização da América Latina (CLADEs). Parece que era algo profundo e duradouro, e, ao mesmo tempo, parece que nunca existiu.

O primeiro “baque” foi o ciclo de ditaduras militares repressivas em nosso continente, que levou ao fechamento de instituições interprotestantes, como a CEB, justamente pelo profetismo que era uma face da sua missão integral. No Brasil, foi um hiato de duas décadas entre o fechamento da CEB e a criação da Associação Evangélica Brasileira (AEvB), com uma descontinuidade de gerações e de propostas, depois da “amnésia compulsória” em relação ao seu passado de responsabilidade social a que as igrejas foram submetidas pelo Estado e por suas próprias cúpulas cooptadas pelo Estado. Após os Congressos Brasileiros (CBE’s) e Nordestinos (CBN’s) de Evangelização, a AEvB teve o seu valor, mas o modelo centralizado na figura do líder levou a um rápido declínio, acompanhando a crise do líder.

É claro que as polarizações entre o Fundamentalismo e o Liberalismo respingaram entre nós, apesar da nossa sólida maioria e hegemonia Evangélica (l), ou, durante a Guerra Fria, entre “direita” e “esquerda”, mas as Igrejas Históricas (de Migração + de Missão) passaram a ter a companhia, no mercado religioso, das, nem sempre cooperativas, igrejas pentecostais, e, depois, das nada parecidas e nada cooperativas, igrejas neo(pseudo)pentecostais. A velha e respeitável institucionalização protestante foi sendo substituída pelo estrelismo personalista dos caudilhos religiosos e seus clãs, com o coronelismo da cultura nacional sendo “revitalizado” pelos superstars da cultura importada. O caldo, rapidamente, entornou, e no lugar da cooperação e da busca pela unidade, acelerou-se o divisionismo, e baixou o espírito de “cada um por si e Deus por todos” (e satanás por alguns…).

Está difícil fazer essas estrelas se juntar, se sentar, dialogar, construir um processo coletivo, pois cada um está acostumado a impor a sua vontade em seu feudo, e humildade é um artigo cada vez mais escasso. Minha experiência como presidente da seccional de Pernambuco da Ordem dos Ministros Evangélicos do Brasil (OMEB) apenas reforçou a minha percepção de que os pastores formam uma classe dividida, concorrente, e pouco ética nos relacionamentos entre os seus egos inflados, movidos a holofotes. Os Conselhos de Pastores por esse Brasil a fora (malgrado o idealismo de alguns) tem-se transformado em comitês eleitorais para uma participação política corporativa e clientelista. Tem cidade com três Conselhos de Pastores, cada um alinhado com um partido político diferente.

Quando estive em um dos últimos grandes eventos promovidos pela AEvB, percebi, claramente, que havia animais demais para a Arca, que uns não queriam entrar na Arca, porque não se sentiam bem na convivência com outros bichos, e que havia animais que, para o bem geral de todos os bichos, não deveriam entrar na Arca.

Hoje é muito provável que não possamos mais construir uma Arca só, mas vamos terminar na pluralidade de uma flotilha, com diversas Arcas, barcos e solitárias jangadas.

Tenho um sonho mais modesto para a nascente Aliança Evangélica: que ela seja uma das Arcas, menor em tamanho, mas que termine por abrigar os setores sérios, éticos e sadios do protestantismo brasileiro. Algo até fácil de encontrar nas bases. Quanto às cúpulas…

Não podemos viver sem sonhos, e sem trabalhar para transformá-los em realidade!

Bispo Robinson Cavalcanti
Fortaleza (CE), 26 de agosto de 2011,
Anno Domini.

17 de fev. de 2012

Depois do Carnaval

Marina Silva

Chegamos, finalmente, a mais um feriadão de Carnaval, para depois, segundo dizem, tudo começar a acontecer no Brasil.

Geralmente, em nossa viciada cultura da procrastinação, do “deixa para depois”, aproveitamos as datas festivas e comemorativas como desculpa para continuarmos protelando tudo aquilo que nos incomoda, ou que é mais difícil de fazermos acontecer.

Esperamos passar a Semana Santa, o Natal, o Ano-Novo e as férias de verão até chegarmos na convincente constatação de que, em nosso país, as coisas só começam a acontecer depois do Carnaval.

O drama desse “avestruzamento” coletivo é que a realidade dos problemas que precisam ser enfrentados -e que, a cada ano, acabam sendo deixados para depois do Carnaval- não pode ser indefinidamente armazenada como se fosse uma fantasia de um desfile malsucedido, que nunca mais queremos ver repetir-se.

Esses problemas aparecem e reaparecem nos salões e nas avenidas do cotidiano de nossa realidade política e social na forma de muitas faltas -por exemplo, uma adequada reforma da segurança pública que dê dignidade e segurança não apenas para quem precisa da polícia mas também para quem faz a polícia.

Manifesta-se ainda no ensaio do terceiro round do Código Florestal na Câmara dos Deputados, onde já se anuncia uma espécie de “telecatch” entre o projeto aprovado no Senado e o projeto “fake” radical ruralista, com o intuito de aparentar divergências entre os ruralistas e a base governista.

São muitos os que esperam esse “para depois” passar para serem vistos e respeitados: os atingidos pelos desastres ambientais, os banidos do Pinheirinho (em São José dos Campos, cidade no interior do Estado de São Paulo), que reclamam em nós, e não de nós, uma solução para o vergonhoso êxodo a que são submetidos, as vidas assoladas compulsoriamente pelo crack a reclamarem do Estado mais ação preventiva do que repressão.

Todos precisamos de descanso, de refrigério, de tempo para encerrar ciclos. Mas o Estado, os governantes, as autoridades políticas que recebem da sociedade o nobre mandato de zelar por seu bem-estar, pelo desenvolvimento do país, não têm direito ao descanso do “deixa para depois”.

O país, em muitos aspectos, vive um momento excepcional de crescimento, de expansão. Entretanto nós não podemos nos enganar. Não queremos ser como um vagão puxado pelas locomotivas de outras nações.

O Brasil que ainda patina com graves problemas estruturais, que precisa melhorar tanto, por exemplo, na educação, não pode perder tempo.

via Folha de S.Paulo

16 de fev. de 2012

Revolução Cultural

Ed René Kivitz

Acabo de ouvir Zigmunt Bauman por 30 minutos, em entrevista concedida a Sílio Boccanera, para o Programa Milêmio, da GloboNews.

Dos interessantes comentários a respeito do que Bauman chama de “revolução cultural”, tive alguns insights. Na verdade, dois. E ambos parafraseando o “penso, logo existo” de Descartes. Vivemos dias de “devo, logo existo”. Bauman disse que na sociedade capitalista quem não consome, não existe. Deixamos para trás a caderneta de poupança: “consiga o dinheiro e compre o que que quiser”, e migramos para o cartão de crédito: “compre o que quiser e depois consiga o dinheiro para pagar”. O resultado dessa mudança de paradigma de consumo é a dívida. Mudou o ditado. Antes se dizia “quem não deve, não teme”, hoje se diz “quem não deve, não existe”, pois quem não deve não interessa aos donos do crédito. E quem não interessa aos donos do crédito está alijado da sociedade.

Além de “devo, logo existo”, vivemos dias de “sou visto, logo existo”. Essa é a versão imposta pela tirania das redes sociais. Quem não tem twitter, blog, facebook está fora do horizonte de convívio social, cada vez mais virtual. A vida on-line substituiu a vida off-line. Vai crescendo o número de pessoas que deixam de existir assim que fecham seus computadores e desligam seus smartphones. Aliás, o mundo vai se enchendo de gente que jamais fecha o computador ou desliga o smartphone. Apavoradas com a possibilidades de não serem vistas, isto é, não receber comentários e recados no facebook, e não ver sua coluna de mentions do twitter crescer, as pessoas temem deixar de existir.

E Bauman conclui como somente os sábios: “não tenho capacidade nem conhecimento para avaliar o que isso significa nem como vai ser o futuro”. A entrevista se encerra com Bauman encolhendo os ombros e virando os beiços como quem diz “e agora, José?”.

Fonte: Blog Ed René Kivitz

9 de fev. de 2012

Falta tempo?


John Stephen Piper (11 de janeiro de 1946, Tennessee, EUA) é pastor, conferencista e escritor americano Batista Reformado, que atualmente serve como pastor sênior na Igreja Batista Bethlehem em Minneapolis, Minnesota. É muito conhecido por causa de seu livro "Desiring God", e por seu site de divulgação desiringgod.org.br.




2 de fev. de 2012

O que dizer?

O que dizer à uma sociedade que parece estar surda? Os indivíduos que a compõe se fecham cada vez mais em suas redomas de proteção, e para dentro destas redomas só levam o que julgam necessário.

Buscando momentos de serenidade e meios para apaziguar a alma e o espírito, muitos recorrem semanalmente a algum tipo de encontro religioso ou filosófico. É comum em todos estes certames a queixa de "Surdez Conveniente", ou seja, quando o ouvinte se torna seletivo e escuta apenas o que lhe agrada - nos demais momentos se   torna surdo por conveniência.

No ambiente Cristão este fenômeno também é observado, aliás com nitidez e contornos bem fortes. Em locais onde a Bíblia é pregada com integridade, coerência e parâmetros hermenêuticos sérios; aplicações profundas podem ser retiradas para vida, contudo para maioria dos ouvintes estas potenciais aplicações "entram por um ouvido e saem pelo outro".

O que dizer? Como alcançar? Podemos começar praticando, isso mesmo, praticando o que já recebemos e o que já aprendemos. Transformar as palavras em atitudes, a teoria em prática. Existe uma frase atribuída a muitos autores que diz: “Suas atitudes falam tão alto que eu não consigo ouvir o que você diz.” Que tal demonstrarmos em atos o que já conhecemos em palavras?

Seria magnífico se as pessoas estivessem surdas devido as nossas muitas atitudes coerentes com nosso discurso. Mas é justamente o contrário que observamos. Palavras vazias, não aplicadas, geram surdez:

  • Surdez da incredulidade;
  • Surdez da hipocrisia;
  • Surdez da conveniência.

    O que dizer? Melhor não dizer nada, apenas ouça e pratique...

    Mateus 7.24 "Portanto, quem ouve estas minhas palavras e as pratica é como um homem prudente que construiu a sua casa sobre a rocha. "

    Abraço;
    Rodrigo D. Silva